27 de maio de 2024

[Filme] Tartarugas Até Lá Embaixo.

 O livro Tartarugas até lá Embaixo do autor John Green foi lançado aqui no Brasil em 2017. Esse é o seu primeiro livro desde o enorme sucesso de A Culpa é das Estrelas. Na época, eu era uma leitora mais ligada nos lançamentos literários e lembro da expectativa dos leitores de “culpinha” para o John Green materializar o livro fictício Uma Aflição Imperial. O autor John Green citou a pressão em uma dessas entrevistas:

[...] mas também significou que, quando eu comecei a tentar escrever novamente, senti como se houvesse pessoas olhando por cima do meu ombro e isso tornou [escrever] impossível por um longo tempo.”.

Semana passada, foi estreado na Max a adaptação do livro Tartarugas até lá Embaixo do autor John Green. Fui pega de surpresa tanto pela adaptação quanto pela estreia de um dos meus livros preferidos do autor.


“(…) No fundo ninguém entende o que se passa com o outro. Está todo mundo preso dentro de si mesmo.” p. 228

O filme Tartarugas até lá Embaixo é um drama muito bem construído e com potencial para tocar o coração do público, especialmente daqueles que têm TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) Quem ouve o nome do autor imediatamente o relaciona com histórias românticas, cheias de altos e baixos e muito drama, mas neste caso o fio condutor da trama é a amizade e o poder que a ansiedade tem de roubar a vida de uma pessoa pode ser lido como uma leitura autobiográfica já que o autor passou por alguns problemas de saúde mental.

Aza Holmes é uma garota de 16 anos que sofre de ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo. Ela se reconecta com um interesse amoroso da infância e vê a chance de encontrar o amor e a felicidade apesar de sua saúde mental. Aza (Isabela Merced) é uma adolescente que pensa demais em bactérias e microrganismos, e raciocina a todo momento se o seu corpo está sendo infectado e se ela vai morrer. Isso se agrava quando seu pai falece de maneira inexplicável bem na sua frente, quando ela ainda era uma criança. A partir daí, sua obsessão piora e faz com que ela se torne refém da própria cabeça, ao mesmo tempo que tenta levar uma vida comum.

Daisy (Cree Cicchino) sua melhor amiga é o seu oposto; animada e falante. Embora diferentes, as duas se completam... Mas, observando com atenção Aza passa mais tempo lidando com seus pensamentos do que dando algum tipo de atenção para a amiga. Toda a narrativa é mostrada aos poucos ao longo da trama, sendo esse o maior acerto do enredo, o filme não ter pressa de entregar um desfecho surpreendente ou plot twist incrível.

O desaparecimento misterioso do homem milionário serve apenas como plano de fundo para que a protagonista reencontre Davis (Felix Mallard), um garoto que ela conheceu quando participou do acampamento para crianças que vivenciaram o luto... No livro, o desaparecimento não era apenas o plano de fundo para o reencontro de Aza e Davis. No filme, não foi explorado o lado detetive das meninas e onde a ansiedade da protagonista atrapalharia em uma função que requer tanto atenção aos detalhes e as referências da caixa de cereal onde o pai do Davis (Felix Mallard) guardava os dólares. Outra referência era o refrigerante preferido da Aza Refrigerante Pepper senti falta dessa referência no filme já que no livro virou praticamente um personagem de tão importante...



Sentimos uma tristeza que ela sente pela inadequação social que ela representa. Dá pra sentir todo o medo que Aza sente de que, talvez, ela nunca se torne um adulto funcional, e sempre dependa da mãe e de remédios para mantê-la estável. A relação com os remédios é outra coisa que deixa você angustiado. É óbvio que os remédios ajudariam a estabilizar sua mente e a encontrar mais tranquilidade na sua rotina. Mas os remédios na verdade são uma fonte de contradição e angústia para ela, porque como ela pode ser normal se precisa de medicação para estar entre outras pessoas normais? Além dos remédios Aza fazia tratamento psicológico se mostrando eficaz para a angustia de Aza.

Apesar dessa trama intensa e cheia de questionamentos, a diretora Hannah Marks não esquece que o livro de Green é uma obra para adolescentes e mantém a leveza necessária para atingir o público alvo.


Na verdade, o mundo é um prato achatado apoiado no dorso de uma tartaruga gigante. O cientista então perguntou em que a tal tartaruga gigante estaria apoiada e a senhorinha respondeu: “Em outra tartaruga. Uma tartaruga abaixo da outra. Há tartarugas até lá embaixo.”


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