5 de dezembro de 2024

Resenha: Olhos D'Água - Conceição Evaristo.


“A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície”.

“Olhos D’água” é título do livro, e também da primeira história contida nele, apresenta várias narrativas curtas, e com exceção da primeira, todas as outras são narrados em terceira pessoa. Ao longo dos quinze contos que compõe a obra, temos como personagens: mulheres, mães, avós, ex-prostitutas, crianças, amantes, bandidos, todas (o) negras (o). Aqui, ela apresenta como temática principal a condição social vivida pela população afro-brasileira, retratando os seus dilemas, amores, questões existenciais, enfim, toda a pluralidade de emoções e sentimentos que nos definem como humanos.

Ana Davenga, Maria, Duzu, Natalina, Luamanda, Ayoluwa, são algumas dessas personagens, que vivenciam no seu cotidiano a violência doméstica e urbana, os preconceitos de classe, raça e gênero, mas que insistem em continuar vivendo, sonhando e de serem senhoras de suas vidas, mesmo quando a realidade cruel e excludente se impõe e ceifa essas tentativas. São também as mulheres da narrativa que trazem consigo a ancestralidade e a identidade afro-brasileira, evocando ritos, memórias e o reencontro com o sofrimento e a resiliência de seus ascendentes.


Aviso de gatilhos: Contém gatilhos de violência e abuso com pessoas pretas.


Comecei a leitura de “Olhos D’água” em E book e ganhei o físico no dia do grupo de leitura que eu participo. A edição física nos mostra a qualidade da diagramação do livro que faz parte de uma leitura de qualidade.



Livro: Olhos D’Água
Autora: Conceição Evaristo
Editora: Pallas
Ano: 2014
Páginas:116 páginas
Avaliação: ☕☕☕☕☕




Sinopse: Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”. Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.


Maria da Conceição Evaristo de Brito, nasceu em Belo Horizonte – MG, no ano de 1946 (73 anos). De origem humilde, migrou para o Rio de Janeiro na década de 1970. É Graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atuou também como professora da rede pública de ensino. Tornou-se Mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, e Doutora em Literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense, com as teses, Literatura Negra: Uma poética de nossa Afro-brasilidade e Poemas malungos, cânticos irmãos respectivamente.Começou a escrever jovem, porém só começou a publicar seus textos aos 44 anos quando teve contato com Grupo Quilombhoje. Hoje possui várias produções publicadas, dentre elas destacamos Becos da memória (2006), Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e Ponciá Vicêncio (2003) sua obra mais conhecida, todas elas abordam temas como, a condição social da população afro-brasileira, racismo, questão de gênero entre outros.

Embora, eu não leia muito livros de contos... Confesso que, a conexão com a escrita da Conceição Evaristo serve para sair da zona de conforto para uma realidade que acontece todos os dias... A poesia não é uma "cortina de fumaça" para a realidade que está sendo descrita ali: violência, racismo e machismo.

Um comentário

  1. Esse livro é incrível. Trabalhei com ele, inclusive na faculdade semestre passado. A potência de Evaristo é tremenda.

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